Desculpa o atraso, não repara a bagunça
Newsletter atrasada, programação atrasada, mas, juro, tenho explicações (que não virão hoje). O mistério está no ar.
Prefere ouvir? Clica no play. É a versão anterior, acabei de inserir um parágrafo que fala de Rihana e sua marca de lingerie. Acordei com a voz ruim para gravar nova leitura.
Uma abinha a mais
Barbie e nosso imaginário de representatividade
Cheguei atrasadíssima para falar da Barbie. Sei que nesse mundo de imediatismos a última polêmica super super interessante, da qual ninguém escapa de tecer sua opinião super super original se torna idosa num piscar de olhos.
Bem, eu gosto de ser lenta. Quando antecipo opiniões, sofro. Não é raro eu magoar alguém com minhas respostas de pronto. Aprendi meu ideal: mastigar uma ideia até que ela solte todo o seu açúcar, e só jogá-la fora (ou para o mundo) quando considerei todas as possibilidades. Eu sei, estou na contramão.
O trem da internet é supersônico.
Iguais, uma utopia?
Toda essa introdução é para dizer que me diverti horrores assistindo ao filme da Barbie no cinema. Adorei a abordagem, as críticas, a capacidade de autocrítica. Eu sempre penso que uma das maiores tragédias atuais tem tudo a ver com nossa capacidade negativa de rir de nossas próprias desgraças. Num mundo cada vez mais plural, a Barbie estereotipada ri de sua condição. E é ótimo, como expulsar de dentro dos pulmões um monte de ar mofado. É catártico.
Li alguns artigos e, sim, é impressionante como o capitalismo se retroalimenta até mesmo quando se propõe a criticar modelos impostos. Mas não vamos pesar a crítica tanto assim. Deixei-me levar pela camada mais superficial de Barbie. Foi divertido.
Alana em apuros
Detive-me à discussão sobre pluralidade e representatividade quando produzi, em conjunto com o amigo editor Roberto Prym, meu primeiro livro infantil. Alana em apuros é um livro que considero misto, porque tem um volume grande de texto se compararmos com os livros infantis mais tradicionais. O caso é que fui produtora e preparadora do texto da Carolina Fin Simionatto, estudante de apenas dez anos e autora mirim. Carolina Pereira, ilustradora de muito talento, juntou-se ao nosso grupo e deu vida às características de Alana.
Alana em apuros — Carolina Fin Simionatto e Carolina Pereira
É claro que uma personagem criada no imaginário de uma garota pode ser bem diferente da personagem presente na ilustração. Essas questões me habitaram por um bom tempo, e, acredito, também habitaram as duas Carolinas envolvidas no projeto. O final feliz é um livro bonito, com uma trama interessante de mistério. O livro sai pelo selo Alice da Editora Bestiário.
Exposição
Como dizem (e eu acredito), tudo está ligado a um fio que lá no fim das contas se une à nossa consciência. Por isso nem senti tanta surpresa ao me deparar, num sábado à tarde, com a exposição Todos iguais, todos diferentes?, do fotógrafo Pierre Fatumbi Verger no MARGS.
Todos iguais, todos diferentes?
A exposição aborda o olhar do fotógrafo e pesquisador sobre a diversidade cultural e a influência recíproca da religiosidade nas culturas africanas e afro-brasileiras. Em parceria com a Fundação Pierre Verger, as exposições (são duas) comemoram o aniversário de 70 anos do MARGS e podem ser visitadas até o dia 8 de outubro.
São imagens que, a partir do olhar de Pierre, ressaltam os aspectos da diversidade cultural e do respeito ao outro.
Todos, uma construção
Avançando pelas galerias, explorei obras e, quando vi, meu pensamento ia longe, lá num vídeo em que as influencers Naty e Isa produziram sobre a decadência da marca Victoria Secrets. Famosa no mundo inteiro, Victoria Secrets anunciava seus desfiles como shows. Artistas cantavam na passarela enquanto modelos esquálidas desfilavam com lingeries, joias e asas de anjo. Numa concorrência disputadíssima, modelos seriam capazes dos maiores sacrifícios para se tornarem angels. Inúmeros problemas vieram a público (incluindo assédio e misoginia — oh, que surpresa!), mas a insistência na padronização da beleza da mulher acabou determinando a derrocada final. Espectadoras deixaram dar audiência para a marca que só levava em consideração um biotipo. Segundo Naty e Isa, o mundo evoluiu (que bom, né?), e hoje não há mais (tanto) espaço para a beleza padronizada.
OBS 1: neste episódio de Guerras Capitalistas, Rihana levou a melhor. Criou sua própria marca de lingerie que atende a inúmeros biotipos, produziu um desfile show para chamar de seu, e seduziu as antigas fãs das angels. Porém, quando se fala em capitalismo, os monstros nunca morrem e a poderosona Victoria Secrets promete uma batalha final. A ver. Ou não.
OBS 2: sobre os horrores escondidos por trás do glamouroso mundo da moda, indico Glitter, romance polifônico de Bruno Ribeiro.
Respeito às diversidades, finalizo assim. Mesmo de um modo atravessado, Barbie ajuda a popularizar uma pauta importante.
As fotos espalhadas pela newsletter de hoje são da exposição do MARGS.
Tem mais: sobre corpo, a estranheza de se sentir dentro de um corpo, a newsletter da Vanessa Guedes. Já é lugar comum indicar a Vanessa, mas é porque a news dela é muito boa.
E tem mais: a coleção Vampiros, organizada pelo Clube de Leitura Escuro Medo, foi o maior sucesso. Mais de 3 mil downloads em 5 dias. Perdeu? Ainda pode baixar, só que agora tem o custo de R$1,99 por conto. A próxima coleção está programada para o Carnaval de 2024. Com o título CarnaMal, o Clube prepara edital para lançar no dia 31/8.
E mais: encontro para a discussão do romance A noite do cordeiro sofreu alteração de data. Continua presencial e on line (híbrido), com transmissão e interação, no Mondo Cane, dia 2/9, a partir das 17 horas.
O que vem por aí: aqui em Porto Alegre, o mês de agosto chegou forte com lançamentos presenciais. Hoje, quinta, tem Quarto aberto (Ed. Cia das Letras), de Tobias Carvalho (Livraria Paralelo 30, 19hs), A biblioteca no fim do túnel (Ed. Arquipélago Editorial), de Rodrigo Casarin (Instituto Goethe, 19hs) e Entrevero literário (Ed. Rígel), de Nandi Barrios (Casa Mata, 19hs). Sexta tem Meu último poema (Ed. Caravana), de mariam pessah (Olho Mágico, 19hs), e sábado tem Nos beats do coração de um musaranho (Ed. 7 Letras), de Vitória Vozniak (Livraria Baleia, 16hs). Semana que vem, no dia 2/9, tem Os dias de sempre (Ed. Besouros Abstêmios), de Helena Terra (Café do MARGS, 15hs). Indico, também, as campanhas de financiamento coletivo das(os) autores(as): contos de horror cósmico de Larissa Prado (Ed. Diário Macabro), contos de João Matias (Ed. Caos & Letras) e tetralogia de Juliana Daglio (Independente), e as campanhas de pré-venda do romance de Augusto Quenard (Ed. Urutau), contos de Wander Shirukaya (Ed. Caos & Letras) e texto de dramaturgia de Paulo Scott (Ed. Cobogó).
E na próxima newsletter: entrevista com Daniel Gruber (a de hoje atrasou).
O que estou lendo: Pandora (Ed. Fósforo), de Ana Paula Pacheco.
Amei a news 🖤 CarnaMal dia 31 🖤 guria, se você é lenta…
eu também sou dessas que gosta de ser lenta. no mundo dos reacts, diminuir a velocidade para analisar as coisas melhor é quase um movimento político hehe
ps: também sou fã dessa news ❤️ sempre fico feliz quando venho bater o ponto aqui ☺️